domingo, 10 de janeiro de 2016

Arte

    Quando ele abriu os olhos, viu flores. Borrões coloridos de tinta que despontavam e bailavam nas telas. Viu o céu, e com ele os pássaros em sua travessia para o norte. Viu os bosques da Alemanha do século XIX e viu a Mona Lisa. Não conseguia compreender tudo, é verdade, mas as formas que a princípio se apresentavam grotescas se revelavam, com um pouco mais de atenção, de uma beleza inestimável e, de repente, a gana de compreender tudo perdeu ela própria o seu sentido.
    Continuou a percorrer o museu com as pernas e com os olhos, observando cada obra como quem tenta perceber o que passava pela mente e pelo coração do artista em sua criação. Não era mera estética; era também gritaria, incompreensão e liberdade. Livre! Assim como os pássaros que vira, a arte havia de ser livre.
    Ele era Davi, era Pedro, era Júlio.
    Quando tornou a abrir os olhos, estava frente ao espelho.